Eisenman parte para o desenho desta topografia a partir de duas malhas: um mapa do centro histórico medieval de Santiago e o de uma concha (símbolo tradicional dos peregrinos da rota Jacobea). E então, dispôs uma série de linhas reguladoras que criaram uma "mistura de espaço, tempo e significado", nas palavras do arquiteto, e geraram linhas de força que se movem pela terceira dimensão, desde o térreo até a cobertura, criando uma série de deslocamentos verticais.
Ageometria resultante gera uma matriz fluida que opera em dois sentidos: definindo uma relação entre local e edifício e a relação interior-exterior de cada edifício individual.
Este conceito dos edifícios como "pregas geológicas" se materializa na espetacularidade das coberturas que parecem interagir em um movimento de contração e implosão - mas que não conseguem resultar, eficientemente, na hibridação entre a forma da arquitetura e a forma da paisagem, porque o domínio da arquitetura sobre a paisagem natural é evidente.
O conjunto do complexo ocupará uma superfície de 175 mil m², dos quais 52 mil m² estarão ocupados pelos edifícios (proporcionando uma superfície de 148.900 m2para uso).
A organização exterior do complexo se inspira no centro histórico de Santiago, articulando-se por ruas, pórticos, jardins e praças, sobressaindo à presença das Torres Hedjuk, uma homenagem que Eisenman quis fazer ao falido projeto que John Hejduk desenhou em 1992.
Um auditório, um centro internacional de arte dedicado às relações artísticas e culturais entre a Espanha e América Latina (inicialmente previsto para ser um museu dedicado às novas tecnologias) e um edifício de serviços com salas para conferências e dependências administrativas estão em fases iniciais de construção. O auditório, com uma superfície de 59.517 m² conterá uma sala principal com capacidade para 1.500 pessoas e uma sala secundária com capacidade para 450 e concebida como um espaço multifuncional. O edifício de Serviços Centrais, com uma superfície de 7.500 m², constará de cinco andares de escritórios, salas polivalentes e áreas de serviço para os funcionários municipais. Todos os edifícios se interconectarão entre si por uma rua subterrânea pela qual corre também todo o sistema técnico de instalações.
Convém não perder de vista a relevante dimensão política inserida na gênese deste projeto, para compreender sua criação e os diferentes avatares que condicionaram sua construção e a falta de concretude sobre os usos - o que colocou em questionamento um projeto desta envergadura.
Por trás da decisão de erigir a Cidade da Cultura se encontra Manuel Fraga, presidente do governo autônomo galego, no momento em que se convocou o concurso e uma figura que transitou por toda a recente história política espanhola. Como enfatizou o próprio Eisenman, a Cidade da Cultura deveria ser um legado símbolo de sua transição ideológica (foi ministro durante a ditadura franquista para reciclar-se posteriormente dentro das estruturas de governo democrático).
- Fonte: http://www.revistaau.com.br - Por Fredy Massad e Alicia Guerrero Yeste - post: Arq. e Urb. Glauco F.