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quarta-feira, 8 de junho de 2011

Peter Eisenman e a Cidade da Cultura





Bom pessoal desta vez trouxe para vocês um excelente trabalho arquitetonico, desenvolvido pelo arquiteto Peter Eisenman inspirado na topografia e nas curvas de nivel.

Sobre o monte Gaiás, de onde domina a vista sobre Santiago de Compostela, o governo local investiu em um complexo cultural marcante, que chamasse a atenção do mundo para o lado
contemporâneo de uma cidade famosa pelas tradicionaisperegrinações.O arquiteto norte-americano se inspirou na silhueta de vieiras - comuns no litoral galego - para vencer há onze anos atrás o concurso internacional que deu origem às construções.


Uma topografia artificial sobre o cume do monte que produz, de certa maneira, um reflexo da cidade antiga de Santiago de Compostela. A partir dessa perspectiva, Peter Eisenman criou seu projeto para a Cidade da Cultura. A intenção é integrar essas duas entidades para produzir uma nova dimensão de presente na identidade desta localidade galega: manter sua qualidade de referência como lugar ancestral de peregrinação religiosa e ao mesmo tempo dotá-lo de uma nova referência icônica plenamente contemporânea.

Eisenman parte para o desenho desta topografia a partir de duas malhas: um mapa do centro histórico medieval de Santiago e o de uma concha (símbolo tradicional dos peregrinos da rota Jacobea). E então, dispôs uma série de linhas reguladoras que criaram uma "mistura de espaço, tempo e significado", nas palavras do arquiteto, e geraram linhas de força que se movem pela terceira dimensão, desde o térreo até a cobertura, criando uma série de deslocamentos verticais.

As linhas evoluíram a partir de rotações simultâneas, semelhantes a uma torção em pontos
múltiplos, produzindo uma transformação dinâmica do plano bidimensional do local em uma terceira dimensão, conseguindo que a terceira dimensão definida "não fosse uma simples extrusão de uma condição planimétrica".

Ageometria resultante gera uma matriz fluida que opera em dois sentidos: definindo uma relação entre local e edifício e a relação interior-exterior de cada edifício individual.

Este conceito dos edifícios como "pregas geológicas" se materializa na espetacularidade das coberturas que parecem interagir em um movimento de contração e implosão - mas que não conseguem resultar, eficientemente, na hibridação entre a forma da arquitetura e a forma da paisagem, porque o domínio da arquitetura sobre a paisagem natural é evidente.

O revestimento de pedra de quartzito dá às coberturas uma solidez e um peso monumental, que contrasta notavelmente com a sensação que se produz ao se passar para o interior dos edifícios, cuja espacialidade vem também definida por essas malhas que sustentam o projeto e se destacam por sua fluidez, luminosidade e delicadeza.

O conjunto do complexo ocupará uma superfície de 175 mil m², dos quais 52 mil m² estarão ocupados pelos edifícios (proporcionando uma superfície de 148.900 m2para uso).

A organização exterior do complexo se inspira no centro histórico de Santiago, articulando-se por ruas, pórticos, jardins e praças, sobressaindo à presença das Torres Hedjuk, uma homenagem que Eisenman quis fazer ao falido projeto que John Hejduk desenhou em 1992.

Dos seis edifícios previstos, apenas dois foram concluídos: o Arquivo da Galícia, com superfície de 14 mil m² divididos em três andares e que acolhe o fundo hemerográfico sobre a província. Contém salas de leitura e diferentes dependências destinadas às tarefas de registro e catalogação; e a Biblioteca, com uma superfície de 26.010 m² distribuídos em seis andares, destinados a abrigar o patrimônio bibliográfico da Galícia. Contém um amplo depósito e uma sala de leitura, assim como espaços destinados ao estudo e a atividades de divulgação. Os dois edifícios estão conectados por dois níveis inferiores.

O edifício para o Museu da História da Galícia (superfície de 20.860 m²) tem sua abertura prevista para final de 2011, com destacada espetacularidade da fachada, de 43 metros de altura.

Um auditório, um centro internacional de arte dedicado às relações artísticas e culturais entre a Espanha e América Latina (inicialmente previsto para ser um museu dedicado às novas tecnologias) e um edifício de serviços com salas para conferências e dependências administrativas estão em fases iniciais de construção. O auditório, com uma superfície de 59.517 m² conterá uma sala principal com capacidade para 1.500 pessoas e uma sala secundária com capacidade para 450 e concebida como um espaço multifuncional. O edifício de Serviços Centrais, com uma superfície de 7.500 m², constará de cinco andares de escritórios, salas polivalentes e áreas de serviço para os funcionários municipais. Todos os edifícios se interconectarão entre si por uma rua subterrânea pela qual corre também todo o sistema técnico de instalações.

Convém não perder de vista a relevante dimensão política inserida na gênese deste projeto, para compreender sua criação e os diferentes avatares que condicionaram sua construção e a falta de concretude sobre os usos - o que colocou em questionamento um projeto desta envergadura.

Por trás da decisão de erigir a Cidade da Cultura se encontra Manuel Fraga, presidente do governo autônomo galego, no momento em que se convocou o concurso e uma figura que transitou por toda a recente história política espanhola. Como enfatizou o próprio Eisenman, a Cidade da Cultura deveria ser um legado símbolo de sua transição ideológica (foi ministro durante a ditadura franquista para reciclar-se posteriormente dentro das estruturas de governo democrático).

O projeto de Eisenman nasceu assumindo que a dimensão da Cidade da Cultura como símbolo estava absolutamente acima da funcionalidade dos edifícios. Também havia dúvida se as dimensões do complexo da Cidade da Cultura não eram excessivamente exageradas para a envergadura local de Santiago e da comunidade da Galícia. Mas, de algum modo, o início do funcionamento parcial do complexo evidencia que o projeto se desvinculou dessa natureza de gesto político megalômano, e se abriu à potencialidade de se redimensionar como um elemento urbano apropriável. Com seu uso, o complexo pode aprender a se adaptar à escala do indivíduo e à coletividade à qual serve.

2 comentários:

  1. Ola Bruno, passei um bom tempo no teu blog, lendo todas as matérias. Muito bacana mesmo.

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